Uma audiência pública na Câmara Municipal de Igarapé, em 11 de agosto de 2025, tornou-se um palco de fortes críticas e preocupações sobre o projeto de ferrovia da Cedro Participações S.A. O evento, convocado pela deputada federal Duda Salabert, reuniu líderes políticos, técnicos, e moradores, todos unindo forças contra o traçado proposto, que, segundo eles, ameaça a segurança hídrica, alimentar e social da região.
O projeto de ferrovia, que recebeu outorga por autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), tem como objetivo construir uma linha de 28 km para o escoamento de minério. A audiência pública contou com a presença da deputada estadual Beatriz Cerqueira e de vereadores de Igarapé, São Joaquim de Bicas, Mário Campos e Mateus Leme. A ausência de representantes da Cedro foi notada e criticada, com a empresa justificando a falta devido à fase preliminar de estudos.
Assista à Audiência Pública na Íntegra:
Principais Preocupações e Denúncias
A mobilização popular tem sido a principal força do movimento “Unidos contra a Ferrovia“. Os argumentos apresentados no seminário focaram em diversas áreas de impacto:
Área de Impacto | Detalhes das Denúncias |
Ambiental e Hídrico | A geóloga Daniela Cordeiro alertou que o traçado cruzaria mais de 80 cursos d’água, afetando o reservatório de Serra Azul, que abastece 2 milhões de pessoas. A obra também passaria por nascentes e áreas de proteção ambiental, incluindo a APA de Igarapé e a área tombada da Pedra Grande. |
Social e Desapropriação | A advogada Isabela Oliveira Lopes Rezende denunciou a falta de transparência da Cedro, que estaria invadindo propriedades e pressionando moradores. Estima-se que mais de 300 famílias podem ser desapropriadas. A vereadora Samanta, de Mário Campos, relatou que a empresa estaria prometendo indenizações a moradores já fragilizados pelo rompimento da barragem de Brumadinho. |
Abuso de Poder | Vários participantes criticaram a postura arbitrária da Cedro, que evita o diálogo e usaria nomes de vereadores para intimidar moradores. Houve relatos de reuniões canceladas e falta de acesso a informações cruciais sobre o projeto. |
Posição da ANTT e Próximos Passos
O seminário teve a participação remota de Pedro Fernandes Nascimento, da ANTT, que afirmou que a autorização foi concedida com base na legislação vigente. Ele destacou que a outorga não isenta a Cedro de obter as licenças ambientais necessárias e que a ANTT pode rever a decisão caso a inviabilidade do projeto seja comprovada.
“Se forem apresentados elementos que de fato demonstrem a inviabilidade do empreendimento, de fato, a ANTT ela pode sim […] ter essa desconstituição de outorga.” – Pedro Fernandes Nascimento (ANTT)
A deputada Duda Salabert, junto à deputada Beatriz Cerqueira, anunciou uma série de encaminhamentos para ampliar a luta, incluindo:
- Apresentação de um projeto de lei federal para alterar a lei das ferrovias, exigindo consulta prévia à comunidade antes de qualquer autorização.
- Envio de relatórios técnicos da Assembleia Legislativa à ANTT solicitando a revisão da outorga.
- Solicitação de reuniões com o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério dos Direitos Humanos, o Ministério do Turismo e a FUNAI.
A audiência terminou com a mensagem de que o interesse privado não pode se sobrepor ao interesse público. O movimento popular reafirmou seu compromisso com a defesa da região, deixando claro que, se a ferrovia for construída, terá que ser “com o povo, para o povo e não contra o povo”. O grito de “Não vai passar!” marcou o final do evento, simbolizando a forte resistência popular.